Hoje quero apresentar para vocês nossa nova colunista que vai trazer muitas informações e dicas para nós, mamães! Birras, mudança de comportamento, choro exagerado, medo de dormir sozinha, dificuldade em se concentrar, aprender a dividir brinquedos, serão alguns dos temas que a Leticia Rotta Barsotti irá escrever mensalmente aqui no Ask Mi.
Leticia é psicóloga infantil com grande experiência na área, com pós-graduação e estágio em NY, Hospital das Clínicas e Albert Einstein. Além disso ela é responsável pelo Blog Sobre Criança , que super recomendo a leitura. Para estrear sua coluna o tema escolhida é: Mordida na escola. Como os pais devem reagir? Gente, quem nunca passou por essa situação ou conhece alguém que já viveu isso? Texto super interessante, vale a pena a leitura:
Com o início das aulas, a mordida entre os pequenos é um assunto que está presente e que desperta nos pais e educadores inúmeros sentimentos. O fato é que, desconfortável ou não, temos que lidar com a realidade de que é comum a mordida na criança entre 1 ano e meio e 3 anos de idade. Faz parte do desenvolvimento normal infantil.
A mordida numa criança na escola desencadeia uma série de sentimentos nos envolvidos. Os pais da criança que morde, ficam constrangidos e até preocupados com a situação, achando que pode ser algo da educação. Já os da que é mordida, demonstram ficar chateados e revoltados por conta do machucado do filho. A escola e os professores muitas vezes sentem-se culpados de não conseguirem evitar a situação, além de ter que mediar os sentimentos dos pais e das crianças envolvidas.
O que acontece é que quando a criança vai para escola, ela é inserida num novo universo, que é coletivo. Os educadores devem cuidar desse novo ambiente, acolher e direcionar na forma de se relacionar e se comunicar com seus colegas.
Um dado importante para refletir é que, a criança tem seu primeiro contato com o mundo através da boca, pelo seio materno, que lhe proporciona o prazer de saciar a fome. Na tentativa de descobrir o mundo e experimentar a mesma sensação de prazer, a criança começa a levar outras coisas à boca, como pés, mãos e objetos que manuseia. E na escola, ela pode fazer isso também. Ao experimentar morder um amigo, descobre novas sensações na reação do outro. A partir disso volta a fazer outras vezes.
As crianças pequenas são muito corporais, e também acreditam que são o centro do mundo, são egocêntricas e, portanto, tudo é para elas, e é extremamente difícil dividir e compartilhar. Deste modo, podem acontecer mordidas, empurrões e tapas na relação entre elas. Geralmente as mordidas acontecem em situações de disputa por brinquedos ou quando se sentem inseguros, frustrados ou com ciúmes. Como não conseguem administrar seus sentimentos, e nem expressar esses sentimentos que incomodam, manifestam de maneira corporal, através da mordida.
Normalmente nesta idade, ainda não conseguem falar com facilidade, demoram um pouco quando querem articular uma frase. A mordida muitas vezes é a forma mais rápida que encontram para conseguirem o que querem, funcionando como o substituto da mensagem que eles não estão conseguindo passar.
Fiquem calmos! Essas manifestações não significam que a criança será um adulto violento, mas mesmo sabendo que é somente uma fase, nós devemos cuidar para que as mordidas não aconteçam. Tudo isso tende a melhorar, com o passar do tempo a criança amadurece e consegue se comunicar melhor. E com a nossa ajuda, aprendem a nomear os sentimentos e começam a administra-los de maneira mais efetiva.
Nosso papel como adultos, pais e educadores é mostrar para a criança que morde, que existem outras maneiras de manifestar seus desejos, e para os que sofrem a mordida, ensinar que eles podem se defender! Mas de maneira alguma, devemos incentivar a revidar, ou se defender de forma agressiva.
Bom, saber que a esse tipo de comportamento agressivo faz parte do desenvolvimento dos pequenos já ajuda bastante os adultos a acolher as crianças envolvidas e agir de maneira adequada. Toda criança tem potencial para amadurecer e se integrar, mas isso vai depender de um ambiente que ajude e que seja permeado por amor. Portanto o papel do cuidador, educador é fundamental.
O adulto deve impedir que a agressividade fuja do controle, mostrando que ela pode ser expressa sim, mas sem causar danos. Podemos aceitar alguns desses comportamentos agressivos dando sentido a eles, quando permitimos algumas brincadeiras em que a agressividade é aceita, como por exemplo derrubar uma pilha de lego, amassar a massinha com força, rasgar papel.
Muito bem, já sabemos sobre a mordida…mas como podemos ser ativo e ajudar as crianças nesse processo?
A criança que recebe a mordida repetidamente, necessita de ajuda para demonstrar que ficou triste, mostrar seus limites e conseguir se defender melhor. Tenho visto muitos pais, que ficam frustrados em ver os filhos mordidos, e ensinam a revidar, essa definitivamente não é uma forma positiva e que vai ajudar o filho a desenvolver seus mecanismos de defesa. Tive um pacientinho no consultório que levou três mordidas do mesmo amigo em três dias consecutivos. Os pais estavam muito bravos com a escola, e até certo ponto, eles tinham razão. Mas o que eu fui mostrando para eles é que o filho deles escolhia sempre o mesmo amigo para brincar, e essa criança de quem estamos falando tinha algumas características muito fortes como não ter medo de nada e não saber seu limite. Era uma criança que se machucava com frequência, pois testava seu próprio limite diversas vezes. Ele era um desbravadorzinho que adorava inventar brincadeiras que tinham algum desafio. Era daqueles que sempre ia no escorregador mais alto. Fui mostrando para os pais, que o fato dele escolher para brincar com esse amiguinho que ele sabia que mordia, também fazia parte dessas aventuras, e que certamente ele também precisava de ajuda para entender qual era o limite dele, até onde ele podia ir nas brincadeiras sem se machucar. Se ele não sabe isso, como ele vai conseguir demonstrar para os outros coleguinhas? Estou contando essa história, pois também precisamos ouvir e avaliar essa criança que é mordida repetidamente. É importante acolher, e ajudar ele nomeando os sentimentos e a se expressar, podendo se defender.
Lembrem-se a criança que morde não é má, e ela também precisa de ajuda.
Quando uma criança morde precisamos identificar as razões das mordidas. O importante é estar disponível e dar a possibilidade de expressar o que sente para que compreenda o que está acontecendo consigo. Algumas vezes, elas não saberão explicar o motivo da mordida e nesses casos, dê algumas opções, pergunte se é porque ficou brava, ou porque queria o brinquedo que estava com o amigo. Incentive a falar da situação e de seu sentimento, ensinando que da próxima vez pode falar para o colega emprestar o brinquedo, ou que gostaria também de estar no colo.
Em seguida não esqueça de mostrar que o amigo ficou triste e machucado. O desafio aqui é explorar causa e efeito. O que acontece quando eu mordo? Tentar fazer a criança se imaginar no lugar do amigo, assim podemos despertar a percepção das consequências das atitudes que se pratica. Nós precisamos ficar atentos, e perceber em qual situação essa criança geralmente morde, podendo antecipar a ação, intervindo para evitar que a criança morda novamente. Assim, quando estiver diante uma situação da qual ela normalmente age com a mordida, o cuidador pode estimular a criança a trocar a comunicação corporal pela verbal.
É fundamental incentivar sempre um pedido de desculpas sincero. Será um caminho de desafios e um aprendizado lindo para as crianças, elas vão conseguindo aos poucos conhecer os seus limites e suas potencialidades, se relacionando de forma mais construtiva e gostosa!!
Morder os colegas é uma fase que deve passar até 3 anos, 3 anos e meio. Caso isso não aconteça, ou as situações de mordida aumente, talvez seja importante procurar um psicólogo para ajudar a identificar o porquê deste comportamento e caminhar juntos com os pais nesse processo de melhora.
Leticia Rotta Barsotti- Psicóloga infantil, com especialização em São Paulo e em Nova Iorque. Tem seu consultório particular, trabalhou anos nos melhores hospitais de são Paulo como no Hospital das Clínicas, e no Hospital Albert Einstein.
Para contato: leticia@sobrecrianca.com.br
Fotos: Internet
ESCRITO POR Leticia Rotta Barsotti
Psicóloga infantil, com especialização em São Paulo e em Nova Iorque. Já trabalhou nos melhores hospitais de São Paulo, como no Hospital das Clínicas e no Hospital Albert Einstein. Atende em seu consultório particular.